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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Rachel Sheherazade: Exaltação à barbárie e preconceito na sua TV

- É. O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente, que ao invés de prestar queixas contra seus agressores, ele preferiu fugir...

Assim começa Rachel Sheherazade em mais uma de suas barbaridades verbais (e de uma profundidade que transforma uma poça d'água em um oceano).

Para ela, por não prestar queixa contra seus agressores, o jovem NEGRO já pode ser considerado culpado e com uma ficha "mais suja do que pau de galinheiro".

Sheherazade considera "compreensível" a atitude dos "grupos de vingadores". A mesma compreensão que sustentou por anos o esquadrão da morte em São Paulo e o seu ilustre membro, Sérgio Fleury. Compreensão esta que surgiu entre os "cidadãos de bem", moradores de regiões nobres de São Paulo. No Rio, o "marginalzinho" também foi pego por justiceiros em região nobre, na Zona Sul da cidade.

Pra carrancuda jornalista sustentada pelo sorridente Silvio Santos, direitos humanos só protege bandido. "Esquece" convenientemente que muitos já nascem com direitos humanos garantidos. As vezes pelo sobrenome, as vezes mesmo pela cor do cabelo...

O argumento para quem luta por direitos humanos para todos, não apenas para quem nasce em berço de ouro ou é âncora em um jornal da TV, por exemplo, é que estes direitos sejam iguais para... todos!

Mas aí vem o argumento de boteco (com todo respeito aos frequentadores, do qual me incluo): tem pena de bandido? Leva ele pra casa!

A ideia foi um pouquinho diferente: "adote um bandido", aconselhou Sheherazade aos defensores dos direitos humanos.

Essa afirmação rasa (novamente), seria digna de piada de tão idiota que é. Mas há muita gente que usa isso.

Para baixas profundidades, também serei raso: imagine que você é militante pela proteção do urso polar e sua militância incomoda aos donos de uma empresa que encontrou petróleo onde eles vivem. O dono da petroleira, revoltado, diz pra você: "A tem pena dos ursos, leva eles pra casa"

A questão não é gostar ou não gostar. Ou gostar tanto a ponto de ter que levar pra casa como um objeto a se ostentar. A questão é evitar que violações, barbaridades ocorram. A afirmação é tão rasa, que um exemplo raso mostra o quão sem noção ela é.

O "marginalzinho" é negro. E dentro dos dados de homicídios que ela vomita sem ao menos avaliar (mais uma vez, convenientemente) negros são a maioria dos mortos, muitas vezes vítimas do "cidadão de bem" que usou de sua "legítima defesa coletiva" para se defender.

Se ele cometeu delitos, crimes, ou seja lá o que for, que justiça seja feita. Dentro dos padrões e dos processos democráticos. Temos código penal para isso, que inclusive, em seu artigo 345, diz que justiceiros são (ao contrário do que Rachel diz) criminosos.



As opiniões de Sheherazade, que não tem nada de diferente do que você ouve daquele milico paranoico sem argumento, apenas reforçam preconceitos, valores estabelecidos e tentam manter a Casa Grande. Curiosamente, o termo vem a calhar, pois a forma como o jovem foi preso (após ser espancado e mutilado) nos lembra muito cenas que aconteciam nas senzalas do nosso passado vergonhoso.

O cidadão de bem, a cada opinião sua, se revela. Um dia perderá a vergonha e será direta: O cidadão branco (aquele que se acha o único pagador de impostos).

Foi assim com o rolezinho, quando ela estava preocupadíssima que a bagunça e violência das favelas chegassem ao habitat do tal "cidadão de bem". Coisa de pobre, que fique onde moram os pobres...

A cor da pele não muda, a punição também não. Mera coincidência...


O que se revela nos comentários da jornalista (e o que ela faz está longe do jornalismo), é o mesmo ódio de classe e... racismo que convivemos dia a dia.

Parece que o que acomete Rachel é uma repulsa ao que cheira a periferia e favela, é medo de pobre, "preto" e funkeiro.

E para isso vale tudo. Até relativizar e minimizar infringência à lei, barbárie, justiça com as próprias mãos... crimes!


Em tempo: Bolsonaro usou a mesma lógica do "leva pra casa". Este post serve pra ele também....

Em tempo 2: Em seu comentário sobre as presepadas de Justin Biebier no Brasil, Rachel Sheherazade mostra que é mais tolerante e nem um pouco moralista (hãin?). Será que é porque ele é "braquinho, loirinho e de olhos azuis (e é rico)"? Que maldade, é só coincidência, gente!

Na sua opinião, o astro é apenas um adolescente que soca motorista e cospe em fãs, e vem ao Brasil fazer turismo sexual. Que deixem ele viver, peguem leve.

E complementa: "Atirem a primeira pedra quem nunca foi um rebelde sem causa...".
Tão compreensiva, não é mesmo?


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