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terça-feira, 9 de julho de 2013

O "Gigante" Golpista, a Esquerda e as Manifestações do Dia 11 de Julho

O despertar do gigante golpista, claramente evidenciada no derradeiro ato de quinta-feira (20/06), gerou uma reflexão por parte de estudiosos e manifestantes.

A infiltração da extrema-direita já era notada desde o início dos atos, quando se espalharam pelo país. Porém, na quinta-feira, a atuação de grupos de extrema-direita despertou atenção até entre os que achavam exagero tais observações.

Curiosamente, a infiltração desses grupos coincidiu com o momento em que a imprensa passou a exaltar os jovens manifestantes. Naquele momento, muitos jovens foram às ruas pela primeira vez. Despolitizados, engrossaram o coro reacionário contra militantes partidários e tentavam relativizar os ataques que esses militantes sofriam por parte de grupos fascistas. No Rio de janeiro, um militante do PSTU teve o rosto desfigurado após ser atacado por um grupo com a máscara de Guy Fawkes.

Esse "fenômeno" resultou inclusive em um anúncio de suspensão das manifestações por parte do Movimento Passe Livre. A ideia era refletir, dentro do movimento, o que levou a esse desvirtuamento de pautas e aumento de agressões dentro das manifestações. Muitos da extrema-direita aproveitaram a notícia para atacar o MPL, espalhando boatos de que estes eram vendidos e pararam as manifestações por terem se vendido.
Acusações infundadas, mas que fazem parte de uma estratégia da extrema-direita em controlar as manifestações e cooptar os novos militantes que saíram das redes sociais querendo ter sua voz ouvida.

Nós, que participamos de muitas manifestações (eu participo desde 1998), sabemos que não é normal uma segregação física dentro de atos, como alas de escola de samba. Temos, sim, divergências ideológicas (a própria esquerda tem as suas), mas não ultrapassamos o debate acalorado, discordando do argumento do outro, expondo os nossos, sendo convencido que estávamos errados em um ponto de vista, mantendo outros...

Mas o que move a extrema-direita é o ódio. Não há indignação, discordância ou dúvidas que suscitem debates. Há divergências que precisam ser combatidas. O objetivo da extrema-direita é destruir a divergência, destruir o que é diferente.

Foi assim no Nazismo, no Fascismo e nas Ditaduras resultantes da epidemia de golpes que assolaram a América do Sul.

Com nomes chamativos em período tão moralista no qual vivemos, a extrema-direita se esconde sob a fachada de "Organizações", "movimentos". Um deles é a Organização de Combate à Corrupção - OCC. Qualquer comparação com o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) não é mera coincidência.

É só conferir na página do Facebook do grupo o nível de ódio e intolerância (e ignorância) que escorre por lá.

Travestida de paranoia anti-comunista (sim, a extrema-direita zela pela ideologia sagrada da Guerra Fria), a página é um festival de ataque à memória recente do país. As loucuras que correm por lá não se sustentam a 10 minutos de debate. Mas quem disse que querem suscitar debate? Querem espalhar o ódio.

A ideologia que resultou em torturas e outras violações de direitos humanos nos porões da ditadura não é aberta ao diálogo, ao debate... à democracia.

Basicamente, a linha de raciocínio da página é a seguinte:
1 - Exaltação a Ditadores e ao Golpe de 64 (que chamam de... revolução)
2 - Medo (Alô, Regina Duarte!) de um golpe Comunista;
3 - Ataques a movimentos sociais;
4 - Uso incansável da novilíngua ao abordar eventos históricos
5 - Briga constante com os fatos históricos.

Viúvas da ditadura, uni-vos!


A extrema-direita (OCC incluída) age como capanga dos donos do poder, espalhando e incitando o ódio a minorias. Muitas das "correntes" conservadoras do Facebook surgem dessas páginas e são repassada por inocentes úteis (admito que odeio essa expressão)

A investida atual do grupo de tietes de Bolsonaro é o combate ao Foro de São Paulo e à Mobilização Nacional organizadas por inúmeros movimentos sociais, e que conta com adesão de professores universitários, grupos de defesa de direitos humanos, estudantes, moradores de favelas, defensores da democratização da imprensa entre outros que tornam o movimento representativo da sociedade.

E esse é o medo! O povo com pautas próprias. Com demandas que põem em risco regalias das elites.

O Povo? Os excluídos?
Receita da extrema-direita: Misture alho com bugalho e espalhe a paranoia na internet

"Anauê, My Brother!"

Quando a extrema-direita começou a tentar reescrever a origem das manifestações (apagando a luta pela redução da tarifa, pelo passe livre, pela cidadania dos excluídos), tentava também inserir pautas moralistas, desfocadas e conservadoras. Impeachment, corrupção, destituição passaram a aparecer como se aquilo fosse prioridade em uma sociedade onde ainda há gente que nem cidadão é considerado pelas autoridades.

A extrema-direita quer o fim da corrupção (como se um decreto bastasse para isso), mas não concorda com o aprofundamento radical da democracia.

Exaltação ao Golpe e medo de Edward Snowden


Exaltam o capital, se dizem nacionalistas, mas lambem botas do Tio Sam (odeiam o espião comunista chamado Edward Snowden), têm urticárias ao ouvir falar em reforma agrária (é golpe dos comunistas do MST) e bandido bom é bandido morto. Democracia, portanto, não é o forte desse grupo que atualmente clama por uma intervenção militar no Brasil.

Já imaginaram o quão absurdo seria simpatizantes do Nazismo com páginas em redes sociais e realizando atos públicos pela volta do regime que assombrou a Europa?

A conivência de parcela da sociedade com as atrocidades nos porões da ditadura, com os grupos paramilitares que exterminavam pobres e "comunistas" (somada ao tempo cada vez mais longínquo, que nos separa daquele período) resulta nesse tipo de agressão à nossa História através de atos de exaltação ao golpe e à ditadura.

Pior: Redes sociais, que excluem perfis por causa de uma pintura com seios expostos, parecem fazer vistas grossas a esses grupos que semeiam ódio através de boatos e manipulação de fatos históricos.

Rei, rei, rei, o "ditador" Geisel é nosso... miguxo!

E que não se enganem quem acha que a investida da extrema-direita é apenas contra um partido. O PT (mesmo tendo no governo atual uma atitude bem conservadora em nome da governabilidade) é a "ameaça comunista" atual, mas se outro partido de esquerda se destacar mais, o foco se centrará neste! Não contra o PT, mas qual esquerda está em destaque no momento.

O ataque ao MST, às centrais sindicais, ao PT, deve ser visto como um ataque ao PSTU, PSOL, PCdoB, MTST, MPL, UNE, Observatório de Favelas, e qualquer outro movimento que represente a parcela que precisa gritar para ser ouvida. O ataque aos movimentos sociais, portanto, se origina na parcela que tem acesso livre pra pôr a faca no pescoço das autoridades.

A extrema-direita, como disse, é a linha de frente dos "Donos do Poder" e o povo é visto como a massa que lhe dá representatividade, só isso. Para eles, o povo é a massa de manobra em potencial.

Foi assim na "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" e que agora, curiosamente, parece voltar com a "Marcha das Famílias contra o Comunismo", marcada para o dia 10 de julho, um dia antes da Mobilização Nacional convocada pelos movimentos sociais. A adesão, claro, não deve chegar nem perto do que foi o ato crucial para desestabilização do governo João Goulart.

Com esse revival, a pergunta que se faz é: A CIA patrocinou o IBAD para desestabilizar o governo Jango.
Há alguém (ou alguma instituição) apoiando os nobres "nacionalistas" que odeia comunistas e tem tanto ódio de bandeira vermelho quanto um touro?

Seria o Instituto Millenium (no qual há ilustres ídolos da OCC)?

Os discursos amedrontadores de ameaça comunista, golpe dos vermelhos são os mesmos (e os "intelectuais" do Millenium também são adeptos dessas paranoias). Embora os tempos sejam outros.

"Tenho medo. Muito medo", diria um membro da OCC


Na nossa história, os nacionalistas paranoicos deram belos exemplos como podem agir para tentar manipular a opinião pública, causando caos e se infiltrando entre grupos populares.
Lembremos do "Caso Para-Sar" (ou Atentado do Gasômetro) ou do Atentado do Riocentro

O Gigante estabanado que acordou é a velha carcomida extrema-direita. O mesmo "Gigante" que acordou em 1964!

Em 1964, a classe média foi a "massa de manobra em potencial" e ajudou a engrossar o coro da extrema-direita na Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Nessas horas, o gigante agradece pois a classe média ajuda a deixar tudo como sempre foi para os donos do poder.
O tal Gigante em 1964, nas placas da Marcha da Família, em Santos-SP



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*A quem gosta de ler, não faltam livros cobrindo o período Golpe-Ditadura no Brasil. Filmes como "Condor", "O dia que durou 21 anos", "Cidadão Boilesen" são alguns que abordam o período obscuro da nossa História.

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