A infiltração da extrema-direita já era notada desde o início dos atos, quando se espalharam pelo país. Porém, na quinta-feira, a atuação de grupos de extrema-direita despertou atenção até entre os que achavam exagero tais observações.
Curiosamente, a infiltração desses grupos coincidiu com o momento em que a imprensa passou a exaltar os jovens manifestantes. Naquele momento, muitos jovens foram às ruas pela primeira vez. Despolitizados, engrossaram o coro reacionário contra militantes partidários e tentavam relativizar os ataques que esses militantes sofriam por parte de grupos fascistas. No Rio de janeiro, um militante do PSTU teve o rosto desfigurado após ser atacado por um grupo com a máscara de Guy Fawkes.
Esse "fenômeno" resultou inclusive em um anúncio de suspensão das manifestações por parte do Movimento Passe Livre. A ideia era refletir, dentro do movimento, o que levou a esse desvirtuamento de pautas e aumento de agressões dentro das manifestações. Muitos da extrema-direita aproveitaram a notícia para atacar o MPL, espalhando boatos de que estes eram vendidos e pararam as manifestações por terem se vendido.
Acusações infundadas, mas que fazem parte de uma estratégia da extrema-direita em controlar as manifestações e cooptar os novos militantes que saíram das redes sociais querendo ter sua voz ouvida.
Nós, que participamos de muitas manifestações (eu participo desde 1998), sabemos que não é normal uma segregação física dentro de atos, como alas de escola de samba. Temos, sim, divergências ideológicas (a própria esquerda tem as suas), mas não ultrapassamos o debate acalorado, discordando do argumento do outro, expondo os nossos, sendo convencido que estávamos errados em um ponto de vista, mantendo outros...
Mas o que move a extrema-direita é o ódio. Não há indignação, discordância ou dúvidas que suscitem debates. Há divergências que precisam ser combatidas. O objetivo da extrema-direita é destruir a divergência, destruir o que é diferente.
Foi assim no Nazismo, no Fascismo e nas Ditaduras resultantes da epidemia de golpes que assolaram a América do Sul.
Com nomes chamativos em período tão moralista no qual vivemos, a extrema-direita se esconde sob a fachada de "Organizações", "movimentos". Um deles é a Organização de Combate à Corrupção - OCC. Qualquer comparação com o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) não é mera coincidência.
É só conferir na página do Facebook do grupo o nível de ódio e intolerância (e ignorância) que escorre por lá.
Travestida de paranoia anti-comunista (sim, a extrema-direita zela pela ideologia sagrada da Guerra Fria), a página é um festival de ataque à memória recente do país. As loucuras que correm por lá não se sustentam a 10 minutos de debate. Mas quem disse que querem suscitar debate? Querem espalhar o ódio.
A ideologia que resultou em torturas e outras violações de direitos humanos nos porões da ditadura não é aberta ao diálogo, ao debate... à democracia.
Basicamente, a linha de raciocínio da página é a seguinte:
1 - Exaltação a Ditadores e ao Golpe de 64 (que chamam de... revolução)
2 - Medo (Alô, Regina Duarte!) de um golpe Comunista;
3 - Ataques a movimentos sociais;
4 - Uso incansável da novilíngua ao abordar eventos históricos
5 - Briga constante com os fatos históricos.
Viúvas da ditadura, uni-vos! |
A extrema-direita (OCC incluída) age como capanga dos donos do poder, espalhando e incitando o ódio a minorias. Muitas das "correntes" conservadoras do Facebook surgem dessas páginas e são repassada por inocentes úteis (admito que odeio essa expressão)
A investida atual do grupo de tietes de Bolsonaro é o combate ao Foro de São Paulo e à Mobilização Nacional organizadas por inúmeros movimentos sociais, e que conta com adesão de professores universitários, grupos de defesa de direitos humanos, estudantes, moradores de favelas, defensores da democratização da imprensa entre outros que tornam o movimento representativo da sociedade.
E esse é o medo! O povo com pautas próprias. Com demandas que põem em risco regalias das elites.
O Povo? Os excluídos? Receita da extrema-direita: Misture alho com bugalho e espalhe a paranoia na internet |
"Anauê, My Brother!"
Quando a extrema-direita começou a tentar reescrever a origem das manifestações (apagando a luta pela redução da tarifa, pelo passe livre, pela cidadania dos excluídos), tentava também inserir pautas moralistas, desfocadas e conservadoras. Impeachment, corrupção, destituição passaram a aparecer como se aquilo fosse prioridade em uma sociedade onde ainda há gente que nem cidadão é considerado pelas autoridades.A extrema-direita quer o fim da corrupção (como se um decreto bastasse para isso), mas não concorda com o aprofundamento radical da democracia.
Exaltação ao Golpe e medo de Edward Snowden |
Exaltam o capital, se dizem nacionalistas, mas lambem botas do Tio Sam (odeiam o espião comunista chamado Edward Snowden), têm urticárias ao ouvir falar em reforma agrária (é golpe dos comunistas do MST) e bandido bom é bandido morto. Democracia, portanto, não é o forte desse grupo que atualmente clama por uma intervenção militar no Brasil.
Já imaginaram o quão absurdo seria simpatizantes do Nazismo com páginas em redes sociais e realizando atos públicos pela volta do regime que assombrou a Europa?
A conivência de parcela da sociedade com as atrocidades nos porões da ditadura, com os grupos paramilitares que exterminavam pobres e "comunistas" (somada ao tempo cada vez mais longínquo, que nos separa daquele período) resulta nesse tipo de agressão à nossa História através de atos de exaltação ao golpe e à ditadura.
Pior: Redes sociais, que excluem perfis por causa de uma pintura com seios expostos, parecem fazer vistas grossas a esses grupos que semeiam ódio através de boatos e manipulação de fatos históricos.
Rei, rei, rei, o "ditador" Geisel é nosso... miguxo! |
E que não se enganem quem acha que a investida da extrema-direita é apenas contra um partido. O PT (mesmo tendo no governo atual uma atitude bem conservadora em nome da governabilidade) é a "ameaça comunista" atual, mas se outro partido de esquerda se destacar mais, o foco se centrará neste! Não contra o PT, mas qual esquerda está em destaque no momento.
O ataque ao MST, às centrais sindicais, ao PT, deve ser visto como um ataque ao PSTU, PSOL, PCdoB, MTST, MPL, UNE, Observatório de Favelas, e qualquer outro movimento que represente a parcela que precisa gritar para ser ouvida. O ataque aos movimentos sociais, portanto, se origina na parcela que tem acesso livre pra pôr a faca no pescoço das autoridades.
A extrema-direita, como disse, é a linha de frente dos "Donos do Poder" e o povo é visto como a massa que lhe dá representatividade, só isso. Para eles, o povo é a massa de manobra em potencial.
Foi assim na "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" e que agora, curiosamente, parece voltar com a "Marcha das Famílias contra o Comunismo", marcada para o dia 10 de julho, um dia antes da Mobilização Nacional convocada pelos movimentos sociais. A adesão, claro, não deve chegar nem perto do que foi o ato crucial para desestabilização do governo João Goulart.
Com esse revival, a pergunta que se faz é: A CIA patrocinou o IBAD para desestabilizar o governo Jango.
Há alguém (ou alguma instituição) apoiando os nobres "nacionalistas" que odeia comunistas e tem tanto ódio de bandeira vermelho quanto um touro?
Seria o Instituto Millenium (no qual há ilustres ídolos da OCC)?
"Tenho medo. Muito medo", diria um membro da OCC |
Na nossa história, os nacionalistas paranoicos deram belos exemplos como podem agir para tentar manipular a opinião pública, causando caos e se infiltrando entre grupos populares.
Lembremos do "Caso Para-Sar" (ou Atentado do Gasômetro) ou do Atentado do Riocentro
O Gigante estabanado que acordou é a velha carcomida extrema-direita. O mesmo "Gigante" que acordou em 1964!
Em 1964, a classe média foi a "massa de manobra em potencial" e ajudou a engrossar o coro da extrema-direita na Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
Nessas horas, o gigante agradece pois a classe média ajuda a deixar tudo como sempre foi para os donos do poder.
O tal Gigante em 1964, nas placas da Marcha da Família, em Santos-SP |
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*A quem gosta de ler, não faltam livros cobrindo o período Golpe-Ditadura no Brasil. Filmes como "Condor", "O dia que durou 21 anos", "Cidadão Boilesen" são alguns que abordam o período obscuro da nossa História.
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